BLW: Introdução Alimentar sem Papinha

29 de janeiro de 2021

 

A fase que compreende a descontinuidade do aleitamento materno exclusivo e o início da alimentação complementar é repleta de inúmeros questionamentos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza o aleitamento materno exclusivo às crianças com até seis meses de idade, sem que haja ofertas de água, chás ou quaisquer alimentos.

Somente após esse período, recomenda‑se a alimentação complementar. A introdução alimentar estabelecida com preparações em consistência pastosa figura entre as práticas tradicionalmente difundidas, mas tal questão tem sido alvo de debates. Nesse enquadramento, o método baby‑led weaning (BLW) — nomeado por Gill Rapley, autora da obra Baby‑led weaning: helping your baby to love good food — sugere que bebês a partir do sexto mês têm capacidade motora para guiarem a própria ingestão, e, por isso, os que exibem crescimento e desenvolvimento adequados são aptos a iniciarem o consumo de alimentos em pedaços, sendo desnecessárias alterações substanciais de consistência. Segundo o marco teórico‑conceitual, esse método oferece oportunidades para as crianças escolherem:

  • Os momentos em que as refeições serão iniciadas;
  • O que será consumido, entre as opções saudáveis ofertadas pelos indivíduos cuidadores;
  • O ritmo em que as refeições serão realizadas;
  • A quantidade que será ingerida em cada uma das refeições.
  • Logo, os cuidadores atuam na alimentação em caráter intermediário pelo fato de disponibilizarem alimentos e proporcionarem um ambiente agradável para que os bebês possam exercitar as habilidades motoras e, assim, conhecerem os mais variados alimentos, percebendo o ato de comer em toda a sua essência. Em suma, ofertar alimentos em pedaços representa um facilitador para a autoalimentação infantil, sendo esse encorajamento o ponto fundamental do método. Todavia, não há consenso sobre a segurança dessa prática, nem ao menos em relação aos potenciais reflexos no comportamento alimentar e no crescimento/desenvolvimento.

Aqui abaixo eu cito alguns dos achados quando se usa o método baby-led weaning na perspectiva do comportamento alimentar infantil e/ou do crescimento/ desenvolvimento.

  • a duração do aleitamento materno exclusivo foi substancialmente maior entre as mães que seguiram o BLW;
  • as cuidadoras que optaram pelo método eram mais susceptíveis a ofertarem frutas ou vegetais como primeiros alimentos;
  • a maioria das crianças sob a incumbência de um ambiente institucionalizado, em virtude do regresso de suas mães ao trabalho, foram alimentadas com papas/purês;
  • o método foi associado à maior participação infantil nas refeições familiares;
  • 56% (n=340) dos bebês haviam estendido as mãos para agarrar alimentos antes do sexto mês, entre os quais 27% (n=92) foram considerados incapazes de realizar a autoalimentação;
  • no geral, para muitas crianças com oito meses de idade a autoalimentação ainda não era rotina em suas refeições, sendo descritas como totalmente alimentadas por meio das cuidadoras.
  • os carboidratos foram a categoria alimentar preferida pelos bebês que seguiam o método, ao passo que o grupo submetido à conduta alimentar tradicional teve predileção por alimentos doces;
  • as crianças submetidas à conduta tradicional apresentaram maior IMC, sendo mais susceptíveis ao excesso de peso.
  • 90% (n=18) das mães iniciaram a prática do BLW por volta do quinto ou sexto mês de seus filhos;
  • os primeiros alimentos comumente ofertados foram frutas e hortaliças;
  • 80% (n=16) das mães afirmaram que seus filhos compartilhavam as refeições com um ou mais membros da família;
  • houve relatos da oferta de papas/purês e do uso de colher, entretanto restringiram‑se a circunstâncias pontuais, quando os bebês estavam doentes ou aparentavam cansaço para se autoalimentar;.
  • as mães que citaram episódios de engasgo disseram que as crianças lidaram sozinhas com o problema, expulsando o alimento por meio da tosse.

Em conclusão, o BLW foi aconselhado pelas mães que o seguiram com seus filhos. Todavia, relataram‑se preocupações com a bagunça nas refeições, o desperdício de comida e as possibilidades de engasgo. Tais questões, somadas ao receio dos profissionais da saúde acerca da capacidade dos bebês de se autoalimentarem, refletem a escassez de recomendações e de incentivo para a implementação do método. Não houve diferenças nas proporções de engasgo entre os que aderiram ao BLW e aqueles submetidos à conduta alimentar tradicional. O método foi associado à maior duração do aleitamento materno exclusivo, à participação infantil nas refeições familiares, à maior autorregulação da saciedade e à menor exigência alimentar dos bebês.

Fonte: Arantes ALA et al. Método BLW no contexto da alimentação complementar. Rev Paul Pediatr. 2018;36(3):353-363

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